terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O valor da leitura na infância

Artigo de Valéria Riccomini, psicóloga, especializada em Gestão do Conhecimento e diretora da Fundação Itaú Social.

Uma pesquisa realizada pela Fundação Itaú Social em parceria com o Instituto Datafolha avaliou a percepção dos brasileiros em relação à importância da leitura feita para crianças. O levantamento indicou que para 96% dos entrevistados incentivar crianças de até cinco anos a ler é muito importante, pois o hábito desperta a curiosidade, contribui para o desenvolvimento intelectual e cultural (54%), além da formação educacional (36%).

Apesar desta crença, na prática, menos da metade (37%) dos adultos lê para os pequenos. Responderam que não tiveram quem lesse para eles durante a infância 60% dos entrevistados. Uma hipótese é que por não terem desenvolvido o apreço pela leitura em seus primeiros anos, não se sentem motivados a replicar o papel de formar leitores. A discrepância entre a realidade e o desejado fica evidente quando verificamos os dados da última pesquisa realizada pelo Instituto Pró-livro, que revelou que lemos espontaneamente pouco mais de um livro por ano.
O levantamento realizado pelo Datafolha identificou também que a família é a principal responsável pela introdução da leitura no mundo da criança. Trata-se de um estímulo essencial, pois a valorização do livro é feita de forma diferente da escola, promovendo a troca de experiências entre pais e filhos. Além disso, favorece o acesso à cultura e ao lazer, promove a convivência familiar e comunitária, envolve o adulto no processo educativo e contribui para a garantia desses diretos, previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Nas classes com maior poder aquisitivo e mais anos de estudos, a mãe (95%) e o pai (93%) são os principais incentivadores, enquanto nas famílias vulneráveis economicamente a responsabilidade recai especialmente sobre o professor (40%), que muitas vezes não dispõe de infraestrutura adequada para promover ações de leitura. Segundo o Censo Escolar de 2011, do Ministério da Educação, a inexistência de bibliotecas ainda é realidade para 15 milhões de alunos.

O cenário demonstra a necessidade de cada vez mais investir em políticas que mobilizem as comunidades, garantam equipamentos públicos de qualidade e respeitem as características regionais, como vem fazendo o Programa Arca das Letras, do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Mais de um milhão de famílias já foram beneficiadas pelo projeto por meio da instalação de acervos em comunidades rurais e da capacitação de mediadores de leitura.

Outra proposta interessante é a do Instituto Ecofuturo, que há dez anos implanta bibliotecas comunitárias Brasil afora por meio do Projeto Biblioteca Comunitária Ler é Preciso.

Iniciativas como essas podem tornar o hábito de ler para as crianças uma realidade em todo o país. O desafio é garantir a soma de esforços e os investimentos necessários para que todos tenham acesso a livros de literatura, recebam o estímulo para tornarem-se leitores e entendam o valor da leitura para a formação integral de crianças, adolescentes e jovens.  

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